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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Admirando a escrita...

"Os intelectuais leem páginas amarelentas", ouvi algo assim do L.A.Pagani. Mais tarde lendo o texto da Leda Bisol, sua dissertação de mestrado, publicada em 1975, mas escrita em 1972, encontrei a seguinte passagem:

"Said Ali, de formação neogramática e pioneiro do estruturalismo de Saussure nos estudos de Língua Portuguesa, não se permitindo tergiversações que malbaratassem a metodologia adotada, refratária a qualquer análise introspectiva do fato lingüístico, diz em nota de rodapé..."

Uau!!!  Agora entendo o Luiz. Não que as variedades do português contemporânea não tenha suas belas construções resultado também de escolhas lexicais e mesmo de construções gramaticais específicas, mas olhar para traz e ler a passagem acima, entendê-la e admirá-la é tomar sua dose de erudição de cada dia.

E olha que esse livro nem é de literatura, não no sentido que os teóricos da literatura entendem, mas o trabalho de burilamento da escrita é uma coisa de se admirar. Sou tão eclético nesse assunto, que admiro tanto escritas rebuscadas (sem pedantice), como aquelas que fazem ciência de alto escalão em tons bem informais e linguagem simples.

Em alguma passagem do Cherchia (acho que no prefácio daquela livrinho fininho de Semântica) vi algo que faz alusão a esses dois estilos: ele diz que o estilo italiano é formal e cerimonioso, já os americanos são mais informais e diretos e que ele, tendo vivido em ambos os países, já não fazia nem um nem outro; como ele mesmo diz, descobriu-se sem língua e pede desculpas ao leitor. Aproveitando que corri agora na prateleira, peguei o livrinho fininho e chequei essa passagem, veja abaixo que não minto:

"O Melhor estilo da escrita da universidade italiana prima pela elegância; emana de uma cultura refinada e mantém-se  constantemente em registros 'altos'. Ao contrário, o estilo da universidade americana é muito simples, 'to the point', frequentemente misturado com ditados esperituosos e mordazes, que o tornam mais vivo"(Cherchia, 2003).

De qualquer forma, não há como não admirar um certo grau de erudição e faço isso sem desmerecer os estilos que abram mão disso.  Gosto dos dois... qual eu pratico? Sabe Deus!!!

Abraços,

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