Páginas

sexta-feira, 5 de março de 2010

O poeta; a língua; a transgressão...

Os poetas conseguem mágicas com a língua, porque eles simplesmente conseguem trabalhar com a transgressão, e fazer disso 'o belo'.  Conseguem exergar nas regras/regularidades linguísticas possibilidades de criação de sentido, observe:

Subi a porta e fechei a escada.
Tirei minhas orações e recitei meus sapatos.
Desliguei a cama e deitei-me na luz

Tudo porque
Ele me deu um beijo de boa noite...
(Autor anômimo, apud ANTUNES, 2005)


Uau. Papel temático, papel semântico, coerência... tantas coisas... simplesmente mágico!

Se fôssemos falar de coerência, veríamos que sem a segunda estrofe não haveria. A primeira é o caos e a segunda a explicação do caos. A segunda estrofe não desconstrói o caos, mas o justifica. 

Papéis temáticos também podem ser tema interessante de discussão sobre esse texto, pode. Observe que é justamente a violação de traços semânticos, relacionados com a atribuição de papel temático que cria a magia do poema! Uau de novo! Para ser mais claro... o verbo 'subir' toma com o complemento algo 'subível', 'recitar' algo recitável (i.e. poemas, versos, textos etc), 'sapato' em sentido literal não o é. Mas isso não importa, o que importa é a incoerência e como esta se torna coerente!


Alt+F4
 -----------------------------------

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. Parábola, 2005.

2 comentários:

livy disse...

o poeminha da uma bela questao de prova hein >)

Anônimo disse...

No caos há sentido.
Esse poema prova isso. Há um elemento criador do caos e articulador do sentido, que como bom poeta que é,(não lembro o nome dele agora) esse poeta deixa para revela-lo por último. O elemento desarticulador é o beijo, o amor, o romance. É percebtível nesse poema a ansiedade que o protagonista do poema sentia em beijar a mulher amada antes de o faze-lo. É um bom poema para fazer uma moral com namoradas, esposas e futuras pretendentes. Segue abaixo um poema com estrutura parecida de uma poetisa pontagrossense qual também não recordo o nome:

Nada como o rio
Nada como o passaro
Nada como o mar

o peixe é livre
só não sabe voar.

Jeverson 1ºNC