Subi a porta e fechei a escada.
Tirei minhas orações e recitei meus sapatos.
Desliguei a cama e deitei-me na luz
Tudo porque
Ele me deu um beijo de boa noite...
(Autor anômimo, apud ANTUNES, 2005)
Uau. Papel temático, papel semântico, coerência... tantas coisas... simplesmente mágico!
Se fôssemos falar de coerência, veríamos que sem a segunda estrofe não haveria. A primeira é o caos e a segunda a explicação do caos. A segunda estrofe não desconstrói o caos, mas o justifica.
Papéis temáticos também podem ser tema interessante de discussão sobre esse texto, pode. Observe que é justamente a violação de traços semânticos, relacionados com a atribuição de papel temático que cria a magia do poema! Uau de novo! Para ser mais claro... o verbo 'subir' toma com o complemento algo 'subível', 'recitar' algo recitável (i.e. poemas, versos, textos etc), 'sapato' em sentido literal não o é. Mas isso não importa, o que importa é a incoerência e como esta se torna coerente!
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ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. Parábola, 2005.